6h da manhã. Lá vai Jorge, caminhando sorrateiramente pelo corredor noturno da madrugada. Tenta, sem sucesso, utilizar algum poder de sua visão. Não que ele tenha algum, mas nunca se sabe. Veja só, ele encontrou o que procurava, o que o fez despertar tão matutinamente, o brilhante, encantador e importantíssimo vaso sanitário, chamado em algumas culturas, simplesmente, de privada.
Aproveite, Jorge, aproveite.
Jorge é um estudante do Ensino Médio, intelecto superior, em relação aos demais alunos, porém, respeitando a inferioridade alheia, iguala, na hora de falar, o conhecimento de sua apetitosa massa encefálica.
Não olhe agora, senhor, mas parece que seu ônibus acaba de partir. Não fique triste, Jorge, há outros por vir. Quer saber, volte pra casa, estou com um mau pressentimento. Não, Jorge, volte! Volte!
E Jorge pegou o ônibus rumo à escola.
Mas que cocota, hein, Jorge?! Entendo, já namora. Mas não faz mal nenhum apreciar. Mas vamos
entrar, está frio aqui...
“Sem aula hoje, mimimi, paralisação”
Ora essa, Jorge, eu disse que deverias ter voltado pra casa. Perder o primeiro ônibus nunca é um bom sinal. Jorge, vamos embora. Não fique aí conversando. Cara, estou me sentindo mal, vamos rápido.
NÃO, ESPERA! NÃO VÁ! Preciso ir ao banheiro. Vamos usar o da escola. Não, seu patife, volte, volte!
Não acredito que pode ignorar-me assim. Bom, então usemos o banheiro do Metrô. Vamos lá, saia da fila, não olhe para trás e vamos ao banheiro. Qual parte do “não olhe para trás” você não entendeu? O ônibus está aqui, tudo bem. Mas siga seu coração, Jorge. Não, Jorge, não! Vamos ao banheiro, por favor.
Pois é, nem 5 minutos se passou e está se retorcendo. Extremista urinário. Ou está bem ou altamente apertado. Palerma, deveria ter me ouvido. Mas que coisa, esse ônibus tem o caminho mais longo, o mais conturbado e a cada metro que anda, parece que volta outros dois. NÃO! TRÂNSITO HOJE NÃO! Não sei se poderemos agüentar mais Jorge, OMG, nem as pernas conseguimos cruzar. Não sei de mais nenhuma técnica.
Oh! Estamos chegando, mas não relaxe, concentre o que sobrou de forças para segurar o canal da uretra. Finalmente, vamos descer. Oras, seu velho, desça logo, não faça cena. Hã?! Como esqueceu a bengala? Jorge, pegue a bengala dele, rápido. Enfim, ande o mais rápido que puder, Jorge. Bolotas, não acelere mais, Jorge, maldita calça skinny, maldita, maldita.
Vamos, com destreza, suba a rua. Vamos, só mais um pouco. Oh, não! Não olhe agora, mas vem vindo um vizinho. Ignore-o, ignore-o!
“Santos! Santos!”
Vadio, parou-nos para isso. Não gema, Jorge, estamos chegando. Pegue a chave. A chave, Jorge, rápido! Onde você a colocou? Seu palhaço, trate de achá-la! Ok, agora abra o portão. GO, GO, GO, a porta da cozinha. Vamos Jorge,não seremos vencidos agora... Vamos, vire à esquerda. Abra aporta. Não, não precisa fechar, todo estão dormindo.
Aaaaaaahh... Achei que não conseguiríamos, Jorge. E veja só, cá está um dos grandes inventos do Homem. Mas enfim, vamos assistir um pouco de TV.
PS: Essa é uma história baseada em fatos reais, qualquer semelhança entre Jorge, sua subconsciência e VOCÊ, é mera coincidência.